Fotos: Daniel Morais / PortalBO
Em um Brasil onde a cultura muitas vezes parece restrita a determinados círculos, a ascensão de um potiguar, policial militar e estreante na literatura ao topo da maior premiação literária do país já seria, por si só, um feito monumental. Mas a história de Claudionor de Oliveira Júnior, o Teimoso Zen, vai muito além disso.
Ele não apenas chegou mais longe do que qualquer potiguar no Prêmio Jabuti, como também alcançou um reconhecimento acadêmico raro: a posse em uma das cadeiras da APHICUM – Academia Potiguar de História e Cultura Militar.
E assim, sua trajetória — já extraordinária — tornou-se histórica.
Quando a Literatura Rompe Barreiras e a Farda se Faz Cultura
Claudionor é um homem de múltiplas camadas. Policial Militar do Rio Grande do Norte, instrutor do PROERD, voluntário da Cruz Vermelha, protetor de animais, bacharel em Direito e leitor apaixonado desde os sete anos. E, agora, um dos mais promissores nomes da literatura regionalista brasileira.
Seu romance de estreia, Flor do Mandacaru – O Amor em Meio ao Cangaço, mergulha na grande seca de 1877, nas contradições do sertão, nas injustiças imperiais e na figura lendária de Jesuino Brilhante, o cangaceiro romântico que distribuía comida ao povo depois de interceptar carregamentos desviados por coronéis inescrupulosos.
No centro da narrativa está Zé Doido, filho de uma improvável união entre um farrapo gaúcho e uma indígena janduí. Um jovem rico que abandona a faculdade de Direito no Recife para se tornar espião no bando de Jesuíno, tentando combater a fome, a miséria e a opressão.
É uma obra vibrante, sensível e profundamente potiguar — reconhecida nacionalmente como uma das mais fortes do gênero regionalista dos últimos anos.
A Polêmica, a Pressão Popular e a Resistência do Talento
Chegar tão longe no Jabuti seria uma conquista incontestável. Mas, segundo observadores, a presença de um policial militar entre os finalistas provocou incômodos.
Diversas publicações nas redes sociais, inclusive comentários no perfil oficial do prêmio, sugeriam que a organização estaria sofrendo forte pressão popular para impedir que um PM saísse vencedor, reduzindo a obra a disputas ideológicas e ignorando totalmente sua qualidade excepcional.
Ainda assim, Flor do Mandacaru resistiu ao ruído político.
O talento falou mais alto.
E nada foi capaz de diminuir o brilho da façanha — nem de impedir que a obra ganhasse o respeito da crítica e o entusiasmo do público. A obra não foi a ganhadora, mas elevou o Rio Grande do Norte a outros patamares na produção literária atual.
Da Final do Jabuti ao Imortalato na APHICUM
Se o reconhecimento nacional já era motivo de honra, a consagração local elevou Claudionor a outro patamar.
A noite do dia 09 de dezembro de 2025, marcada por tradição, pesquisa e compromisso institucional, o autor tomou posse como sócio efetivo da APHICUM, ao lado do Tenente-Coronel PM Sávio Diomedes e do Tenente-Coronel PM Lenarte de Holanda.
Durante a cerimônia, os novos imortais assinaram o Termo de Posse, marcando oficialmente o ingresso na Academia Potiguar de História e Cultura Militar. Uma instituição que preserva a memória, a identidade e o patrimônio da história militar do Rio Grande do Norte.
Representando os demais empossados, Claudionor discursou com a sensibilidade que já marca sua literatura. Falou da força do sertão, da importância de preservar a cultura potiguar e do papel da APHICUM em registrar narrativas que constroem a identidade do Estado. A instituição celebrou a chegada de um autor cuja escrita honra o povo, o sertão e a memória militar potiguar.
Um Potiguar Inapagável na História Cultural do RN
A jornada de Claudionor de Oliveira Júnior ultrapassa qualquer prêmio. Ele tornou-se símbolo de resistência num país que muitas vezes insiste em separar cultura e segurança pública — como se um policial militar não pudesse ser, também, poeta, pesquisador, romancista, guardião das memórias da sua terra.
Sua ascensão ao Jabuti e sua imortalidade na APHICUM revelam algo maior:
que o talento não reconhece barreiras, não se curva à pressão política e não se limita por fardas. Claudionor representa o Rio Grande do Norte que luta, que sonha e que produz arte — com teimosia, com paixão e com a constância de um verdadeiro Jabuti.
E se o Brasil ainda tenta compreender como um policial militar se tornou um dos maiores representantes da literatura regionalista contemporânea, o Rio Grande do Norte já sabe a resposta: Porque ele honra a terra, a história e o povo que o formaram.
Por: O Equilibrista




















