Operação “Entre Dois Mundos” revela manipulação de processos, repasse de informações sigilosas e concessão indevida de benefícios a líder de facção.
O Ministério Público do Rio Grande do Norte deflagrou, nesta quinta-feira (11), a Operação Entre Dois Mundos, destinada a apurar a atuação de uma organização criminosa dentro do Poder Judiciário potiguar. A investigação aponta que uma servidora terceirizada, lotada em um setor estratégico da execução penal, teria utilizado seu cargo e acesso privilegiado a dados sigilosos para beneficiar integrantes da facção Sindicato do Crime do RN.
Segundo o MPRN, a servidora — que exercia atividades equivalentes às de uma assessora jurídica — manipulava processos, elaborava minutas e acessava informações internas com a finalidade de favorecer seu companheiro, apontado como liderança da facção, além de outros integrantes do grupo. Também é investigada a participação de um advogado que faria parte do esquema.
As suspeitas incluem corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, violação de sigilo profissional e participação em organização criminosa.
Manipulação no SEEU e concessão de benefícios
O ponto central da investigação recai sobre interferências no Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU). De acordo com o MPRN, a servidora teria articulado a redistribuição do processo de execução penal do companheiro para um juiz substituto, aproveitando o período de férias do magistrado titular, conhecido por negar pedidos de progressão de regime ao apenado.
A manobra resultou na progressão imediata de regime e na revogação rápida do monitoramento eletrônico, beneficiando diretamente o detento.
Apreensões e afastamento imediato
A operação contou com apoio da Polícia Militar do RN, do Ministério Público da Paraíba (Gaeco) e do Grupo de Segurança Institucional do Tribunal de Justiça (GSI/TJRN). Foram cumpridos mandados no Rio Grande do Norte e na Paraíba, com participação de promotores, servidores e policiais militares.
Durante as diligências, foram apreendidos celulares, um computador pessoal, além de um token supostamente utilizado pelo advogado investigado — item que reforça a suspeita de uso indevido de credenciais. A equipe também localizou cerca de R$ 9 mil em espécie, uma pistola, cinco carregadores e grande quantidade de munições.
Diante das evidências iniciais, o MPRN conseguiu o afastamento cautelar da servidora, medida considerada essencial para preservar a investigação e a credibilidade do Poder Judiciário.
O apenado investigado, que já cumpria pena, foi novamente detido por posse de arma de uso restrito e permanece à disposição da Justiça.

















