Natal, Rio Grande do Norte, 02 de Maio de 2024

A faca afiada do desamparo

O ódio e a morte em via pública não são personagens isolados em meio a multidão

Sérgio Costa   09/07/2023 às 15h31   -  Atualizada em 09/07/2023 às 16h21

O sangue de José ainda escorre naquela rua, o espírito da morte chegou a galope naquela tarde de sexta-feira, nas quintas. A tentativa de escapar foi em vão, os 17 golpes de faca desferidos em um corpo ainda adolescente determinaram um fim precoce motivado por razões ainda a esclarecer. O grito do menino de 14 anos implorando para ficar entre nós foi confundido por quase todos que participavam daquele evento, mas quando multidão se deu conta da gravidade do fato, José já não respirava.

A história do jovem estudante muito nos remete a reflexões legítimas no que diz respeito a dedicação digna, aos valores fundamentais, a educação, ao esporte, ao amor familiar. O rapaz de 17 anos destacado na foto correndo freneticamente em busca de um objetivo macabro, sombrio e mortal, talvez andou longe desses valores, possivelmente não por culpa própria, mas por ter sido conquistado antes pela agressiva e avassaladora realidade de um domínio cibernético quase viciante e incontrolável.

Estamos assistindo algo diário e atribuindo acontecimentos, como os assassinatos de jovens cada vez mais jovens, somente a chegada ainda crescente das fações criminosas, é bem verdade que nos últimos 15 anos o PCC e o SDRN promoveram verdadeiras matanças e a instalação mais forte do tráfico de drogas no Estado. Aliás, o desamparo é do Estado, essa é minha opinião, falo toda a estrutura, não existe uma criança, adolescente ou jovem com boas perspectivas de futuro e afastados da criminalidade se ainda continuamos a testemunhar escolas depredadas, complexos esportivos sucateados, projetos sociais de acolhimento e lazer que nunca saem do papel, meninos e meninas que são cada vez mais engolidos pela droga por não encontrarem opções, são conquistados por quem não deveria.

Não é difícil constatarmos tudo isso, onde os índices de prisões e homicídios são latentes, nas comunidades periféricas, não conseguimos enxergar sequer um projeto vigente de vergonha para abraçar a juventude, quando existe é de iniciativa privada e quando aparece um,promovido pelos governos Municipais ou do Estado, escondem nas mangas intenções políticas e interesses que fogem totalmente dos propósitos reais. Entendam, essa insegurança e violência não podem ser jogadas nas costas somente da pasta da Segurança Pública, o conjunto de responsabilidades pode trazer resultados incríveis, mas parece existir uma barreira gigantesca que a maioria que está no palácio do poder, por razões tão antigas e tão malhadas, se nega a reconhecer.

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