Os mais experientes investigadores protagonistas de fatos contados e registrados nas crônicas policiais possuem uma certeza, “O local do crime fala”. A afirmação é atestada de forma indubitável quando a leitura do acontecimento é feita de maneira criteriosa e avaliativa. Há 20 dias policiais da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção a Pessoa) apuram as circunstancias e a dinâmica da morte do adolescente Ismael Gomes, a travesti “Ester”, de 15 anos, assassinada de maneira cruel no interior de uma unidade de saúde na zona norte da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.
Desde a data do crime que o presidente do inquérito que investiga o caso, o delegado Roberto Andrade, vinha de maneira incansável buscando a cabeça de Ester que foi jogada em um cacimbão no distrito de Genipabu, litoral Norte. Mesmo com a confissão de Bruno Alisson, suspeito de ter matado a travesti, o bacharel precisava encontrar a outra parte do corpo para fins específicos investigativos só revelados depois. Andrade quer saber o que Ester tem a dizer além da conversa com o assassino teve com a cabeça na beira do poço de 20 metros.
No final da tarde desta sexta-feira (04), um policial da equipe da DHPP pediu ao delegado para lançar pela última vez uma espécie de gancho e tentar retirar a cabeça de Ester do poço, era a última cartada, a última tentativa. Ester gritou!
Com olhares os agentes se comunicavam e percebiam que algo estava sendo resgatado lá do fundo, em poucos segundos a voz que ecoou durante os últimos dias finalmente foi ouvida, aquela mesma voz que Bruno nunca irá esquecer. Exausto, porém convicto, Andrade olhou para a cabeça de Ester e iniciou uma outiva silenciosa para saber mais, para encontrar outras respostas, para tornar o inquérito robusto. O delegado apenas me relatou que o desejo de achar a cabeça tinha um motivo claro, entregar a família o corpo completo de alguém vítima de um crime tão cruel.
Mas Andrade não esconde sua alma vocacional de policial, mantém consigo uma conversa guardada com Ester que ao transcorrer do inquérito pode revelar detalhes do que de fato aconteceu naquela madrugada de horror. O dedo dela não foi encontrado, talvez seria ele o delator de algo ainda não esclarecido. Foi mesmo Bruno solitariamente autor do assassinato? O delegado tirou a cabeça, mas não quer deixar a história esquecida no fundo do poço.