Natal, Rio Grande do Norte, 25 de Abril de 2024

A morte que chega antes dos 30

Estudo mostra que jovens estão sendo vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais cada vez mais cedo

Sérgio Costa   17/04/2020 às 18h28   -  Atualizada em 18/04/2020 às 11h14

Foto : Cedida

Luzia Beatriz tinha acabado de chegar em casa após comprar um medicamento para dor em uma farmácia bem perto de onde morava em Macaíba. A jovem de 18 anos não imaginava que mesmo após fechar o portão seria surpreendida por um atirador cruel e com uma arma de fogo totalmente municiada que chegou chamando pelo nome dela. Luzia foi atingida por pelo menos oito tiros disparados pelo desconhecido, a maioria atingiu a cabeça da futura mãe, ela estava grávida de oito meses. Um socorrista disse a reportagem do PortalBO que a criança ainda vivia quando Luzia já não respondia a estímulos nenhum. A menina morreu minutos depois.

Os pais de Luíza vivem a sombra da saudade e amargam a sensação de uma lança transfixante que chamamos de dor, há dois anos José Luciano o irmão de Luzia morreu em confronto com a Polícia Militar, ele estava envolvido em crimes e o fim trágico e precoce já era esperado pela família. Os irmãos retratam uma realidade triste e cada vez mais presente entre todos, uma juventude que parece comungar de um paradoxo, a euforia das grandes novidades e o caos do efêmero prazer.

Dados recentes provam um comportamento diferente no perfil das vítimas de CVLIs (Condutas Violentas Letais Intencionais) números proporcionais entre 2015 e 2020 até a data de 17 de abril apresentados pela Rede e Instituto de Pesquisa OBVIO Observatório da Violência apontam que quase dois mil jovens com idades entre 16 e 29 anos foram vítimas desse tipo de violência nesse período de cinco anos no Estado. Em 2017 os registros foram gritantes, cerca de 430 jovens fizeram parte dessa sangrenta estatística, já nos últimos anos houve uma queda nesses números, em 2018 somaram-se 383, 2019 foram 242, porém nos primeiros quatro meses de 2020 já chegamos à marca de 266 casos registrados. Pessoas com idades entre 18 e 24 anos foram as que mais morreram nessas circunstâncias de violência, 1.154 em meia década.

Para o coordenador de análises criminais do Estado, o Prof. Me. Ivenio Hermes esses dados são resultado da ausência clara de oportunidades educacionais para uma juventude que vive esta realidade em todo o país. "A vitimização de jovens potiguares segue a tendência nacional da mortandade, o que nos leva a crer que existe uma falta generalizada de condições favoráveis para o bom desenvolvimento da juventude, tendo em vista as principalmente as oportunidades de emprego e renda, as condições de acesso ao ensino qualificado e suscetibilidade à cooptação da criminalidade", destacou.

Na recepção da sede do ITEP (Instituto Técnico e Científico de Perícia) a irmã de Luzia e de José lamentou a tragédia na família, Lucicleide lembrou que além dos dois também chora a perda da criança que estava no ventre de Luíza e de outro irmão que morreu vítima de um acidente há alguns anos. Em poucas palavras a dona de casa resumiu um sentimento que passa a ser o desejo de tantos que perderam a guerra para a violência, o desejo de paz, mas uma paz que ela sabe que pode demorar a chegar.

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