A realidade de jovens mulheres que pagam um preço muito alto, na maioria das vezes com a vida, devido a paixões perigosas e envolvimentos involuntários com o crime.
Aquela tarde de sexta-feira, 29 de abril de 2022, minhas queixas eram muitas quanto à ausência de alguma pauta interessante que pudesse render para o final de semana. A Grande Natal estava quieta e silenciosa, como se uma tempestade se aproximasse. Não durou muito para que tudo mudasse de repente, com uma notícia que eu, sinceramente, demorei a acreditar: uma jovem de 22 anos, chamada Ana Bruna, tinha sido executada no próprio local de trabalho, no centro de Parnamirim. Logo as imagens chegaram, destruindo assim qualquer dúvida que eu tinha sobre o fato.
Aquela mulher foi morta como se já esperasse a vinda de seu algoz; as cenas retratam bem esse detalhe. As investigações para solucionar o crime iniciaram cedo, mas somente após dois anos a polícia conseguiu descobrir o que motivara aquele assassinato covarde e claramente premeditado. Bruna havia se envolvido com pessoas ligadas a uma facção criminosa e, por algum motivo, acabou decretada à morte. O caso ganhou repercussão e abriu um precedente: uma simples relação, até mesmo involuntária, com quem tem ligação direta com o crime pode acabar em tragédia.
Casos como o de Bruna se repetem diariamente em todo o Brasil. Segundo o Atlas da Violência 2025, dez mulheres são mortas diariamente em todo o território nacional — uma realidade que não se desliga deste ponto de afirmação: o envolvimento de mulheres que, muitas vezes, não possuem intenções criminosas, mas acabam se relacionando com o perigo em pessoa. Na última segunda-feira, 12 de maio, outro crime chocou Natal. Um atentado provocou a morte de um casal — um homem e uma jovem, identificados como Jordan Mateus, de 28 anos e Mariana Kelly, de 24. Os dois foram baleados enquanto trafegavam em um carro em Nova Parnamirim; ele morreu na hora e Mariana no dia seguinte. O namorado de Mariana tinha ligação com uma facção criminosa e havia sido preso há alguns meses com uma arma de fogo.
A história dessas duas meninas parece diferente, mas é bem igual. Não falo da semelhança física, que é notória, mas da imagem de uma verdade que o próprio pai de Mariana me disse quando soube da morte da filha: “Todo mundo sabe que quem anda com pessoas erradas acaba pagando um preço alto, às vezes com a própria vida.” Nesses tempos corridos de quase três décadas de jornalismo policial, já vi muitas jovens meninas perderem cedo suas vidas por esse motivo — algumas, ainda adolescentes. Também vi muitas mães e pais lamentarem a perda com as mãos atadas, pois nada puderam fazer. Até tentaram, no entanto, o assustador mundo da violência, propagado como uma arte radical impede muitos pais de serem totalmente imunes aos resultados sangrentos dessa relação que gera dor e medo em tantas famílias.
Por: O Equilibrista