Mulheres que planejaram e outras que não, mas que, em um só momento, tiveram a graça divina de unir dor, alegria e amor.
Era uma tardinha de domingo, uma chuva fina caía nos telhados daquelas pequenas casas das Quintas, eu queria sentir o cheiro da chuva. A mulher do comerciante já aguardava o filho, pois o primeiro preferiu voltar para o céu ainda bebê. Aquele “agoniado” homem já não sabia como fazer o tempo correr, era o menino que já não queria ficar ali dentro sem ver o rosto sagrado da sua genitora.
Foi uma dança vibrante de ansiedade, um disparo quase que olímpico para que a mulher com nome de santa chegasse logo à Maternidade Januário Cicco. O homem foi ligeiro, largou uma terceira marcha no Simca Chambord, que balançava tanto, que eu já estava desistindo do cheiro da chuva, mas já era tarde demais. Acompanhada da minha avó, a mulher e aquele homem alvoroçado adentraram na unidade de nascimentos em uma velocidade que o Simca ficou para trás, minha avó também, mas por um motivo: um dos dedos ficou na porta do carro. “Começara ali meu propósito de contar histórias dramáticas”.
Já era quase manhã, seis e pouco, quando um grito ecoou nos corredores da Januário. Não da dor dela, era o grito da vida nova, o meu grito. Trarei para esse texto uma grande mentira se eu disser que lembro desse sorriso, mas não faltarei com a verdade para nenhum cristão dessa terra, que o cheiro da chuva comecei a sentir já meninote, mas o perfume daquela mulher eu sinto até hoje.
P.S. Papai vendeu o Simca Chambord, minha avó (in memoriam) passou dias com o dedo machucado, o homem que enlouqueceu os enfermeiros e médicos na maternidade vive aos cuidados amorosos dos meus irmãos, devido à doença de Alzheimer. Nem sempre chove, dá tempo de sentir o perfume que vem do céu, porque Santa das Rosas, Teresinha, minha mãe, continua e vai continuar me lembrando da “Operação Sérgio Costa”, naquele ano de 76.