A visão dos meninos e meninas sujeitos a um destino desafiador, dentro da clausura do medo.
Ainda era cedo da noite quando o desespero gritou em tom alto, acordando os desacordados de uma rua projetada do bairro Planalto, zona Oeste de Natal. Era a morte celebrando mais uma chegada diante dos olhos de quem não deveria testemunhar a tão famigerada e gritante violência dos tempos de hoje. Na porta de casa, ele presenciou o destino sangrento de um homem que, segundo a polícia, procurou a dor.
Depois de tentar assaltar um motociclista, o indivíduo acabou cercado por pessoas que não concordaram com a escolha criminosa feita por ele e foi linchado até a morte. O rosto, desfigurado e marcado pelo ódio da intolerância, estava exposto diante dos olhos daquele menino de 12 anos, que correu da cozinha até a calçada para ver quem estava implorando por socorro. Um pedido inútil, já que o juízo estava consumado. A vítima, um homem de 32 anos, morreu em frente à residência daquele garoto — cenário da vida real de uma indiscutível verdade debatida e tão presente em nossas vidas.
Horas após o assassinato, o corpo do homem foi levado para a sede do ITEP, no bairro da Ribeira, para os devidos procedimentos de identificação e apuração da causa da morte. No entanto, aquela cena trágica, interpretada por qualquer vivente, ficou no olhar do menino de calção numerado. Certamente, a imagem flagrante dos últimos minutos de uma vida ficará marcada para sempre de forma totalmente traumática — a violência destacada em cores, cheiro e vozes na mente de uma criatura que precocemente teve que compreender uma realidade passada na “casca do alho” diariamente pelos natalenses.
A pequena testemunha de 12 anos se calou por medo — sentimento justificado pela grande ruptura da linha entre a paz e a guerra, tão comentada e diagnosticada por tantos, porém sem o uso de, ao menos, um torniquete para estancar o sangue. O menino tem o rosto semelhante ao de tantos que absorvem o semblante do medo, do crime, da morte — que chegam tão cedo para eles. A regra natural seria configurar uma imagem diferente neste plano visível, uma realidade em que nossas crianças já crescessem com a fiel ideia de que, parafraseando, “nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo.” Doze é um número bíblico, sagrado e talhado pela inocência — que, lamentavelmente, está ameaçada pelo seguinte: o azar.
Por: O Equilibrista