Natal, Rio Grande do Norte, 18 de Maio de 2024

O desabafo de um Comandante

   13/08/2011 às 09h57   -  Atualizada em 06/02/2015 às 08h39

Algumas Unidades das Polícias Militares do Brasil, principalmente as do interior, sofrem com a escassez de recursos financeiros para manter a máquina administrativa da segurança pública.

No Rio Grande do Norte não é diferente. A falta de recursos, ou muitas vezes a diminuição do repasse desses recursos, faz com que a Polícia Militar realize convênios com outros órgãos para que sejam mantidos os serviços prestados à população.

Em alguns casos, esses "convênios" são vistos até como irregulares pelo Ministério Público, órgão fiscalizador das ações policiais, como no caso que culminou a operação "Batalhão Mall", em Assú.

Com a escassez dos recursos repassados para a 3ª Companhia Independente de Polícia Militar, localizada em Currais Novos, o Comandante da Companhia, Major Edilson, em entrevista à imprensa local desabafou sobre a realidade de muitas Unidades do interior.

Veja o desabafo de um Comandante:

 

"Nós chegamos aqui em março, durante o Carnaval, e, graças a Deus, depois que a gente chegou e não desmerecendo o Comando anterior, que fez um bom trabalho também, mas a gente teve sorte. O nosso trabalho foi eficiente. Então do Carnaval para cá teve um resultado positivo.

(...) Quando a gente chegou aqui já vinha passando dificuldades financeiras - a Companhia - porque nós não tínhamos verba própria. Aqui, a Companhia, não tem verba própria. O que é que tínhamos? Os bancos nos ajudavam com o convênio que tínhamos com os bancos. Depois que houve esse problema lá em Macau, alíás em Assú, muitos bancos e a gente mesmo ficou meio assim, porque não há a questão legalizada. Teria que ser uma legalizada. A gente foi ao Comando Geral e ele disse que o legal seria um convênio com a Prefeitura, como está acontecendo em outros Municípios.

Então, a gente ficou hoje praticamente sem nada. Então, o que aconteceu? Tivemos que reduzir o efetivo. A P2 (2ª Seção) tínhamos duas viaturas (...), já cortamos a metade. Tiramos o efetivo, a metade, porque não temos condições de manter essa viatura. Outro problema: redução do efetivo de patrulhamento. A gente vínhamos com um trabalho intensivo, e recentemente, de uns quinze dias p'ra cá tivemos que reduzir por que o policial muitas vezes tem que ir almoçar em casa, jantar em casa. E você, como motorista de uma viatura, vai jantar e no momento da ocorrência já não temos mais.

Então, temos uma dificuldade grande e isso já começou a refletir. Esse final de semana tivemos assalto à mão armada, já tivemos várias ocorrências envolvendo armas, porque a polícia não está presente. Não é que não esteja presente, é porque reduz. Se eu tenho que patrulhar três bairros, só vou patrulhar um ou dois. Não que a Polícia não tenha nos apoiado. Ela tem. Por exemplo, se eu precisar de um botijão, eu tenho que colocar na minha viatura p'ra ir buscar em Natal.

Inclusive eu estou para solicitar minha exoneração, p'ra mim sair daqui por que não tenho como. Tenho vontade de trabalhar. Agora não tem como a gente ver algo se deteriorando, se acabando, e a gente assurmir a responsabilidade.

Tô torcendo para que as coisas se encaixem. Achem uma solução do Governo para que a gente possa trabalhar. Não digo eu, mas todos os Comandantes do interior. Muitos, às vezes, não falam, ficam calados, mas a gente tem que mostrar a realidade para não ser responsável.

Se quiserem me tirar, me tirem. Não tem problema. Eu tô p'ra trabalhar na Polícia Militar. São 25 anos de dedicação. Eu cheguei como soldado, fui cabo, fui sargento. Segui uma carreira com muita luta, com muito sacrifício. Então, não devo a ninguém. Devo só à sociedade e a Deus, por que trabalho p'ra ela, mas ninguém me deu favor pessoal p'ra mim chegar onde eu cheguei. Se eu escolhi a Polícia p'ra trabalhar para a sociedade, vou trabalhar para a sociedade. Então, eu não posso me calar e meu nome sair maculado por causa de "A" e "B".

Hoje já temos uma dificuldade grande no combate à criminalidade crescente (...) imagine quando você não tem o básico para trabalhar. Então, fica difícil. Eu quero que a sociedade de Currais Novos saiba o que estamos passando. Claro que nós estamos indo em busca, o nosso Comandante tem nos atendido, o Comandante Geral, dentro também das possibilidades. Mas, por exemplo, se eu precisar um andamento de moto (...) eu tenho que ir à Natal (...) mas são 100, 200, 300 motos querendo a mesma coisa. Então, eu tenho que entrar numa fila para aguardar e esperar que chegue. Aí a população pode esperar 15, 20 dias sem um patrulhamento?!"

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