Publicada: 09/10/2011 às 11h49

Necrotério do ITEP avançará 30 anos em 45 dias

Reforma era a mais esperada pelos funcionários do Instituto.

Por Thyago Macedo

Criado em 1918 ainda como Gabinete de Identificação e Estatística Criminal, o atual Instituto Técnico-Científico de Polícia passa por reforma histórica. O principal setor do órgão, o de necropsia, que tinha uma estrutura de 30 anos, passa por reestruturação desde o fim do mês de setembro e até o início de novembro estará pronto. O novo necrotério era um sonho antigo de todos que trabalham no ITEP, isso porque os funcionários já não aguentavam conviver com corpos apodrecendo espalhados pelo pátio da sede principal, na Ribeira.

Flávio Caldas, servidor do setor de identificação, lembra que quando o Itep foi criado com a estrutura na qual se encontra até os dias de hoje, Natal ainda era uma cidade pequena.

"Essa reforma era pra ter sido feita há muito tempo. Aliás, precisamos não só de equipamentos modernos, mas também de um prédio novo, uma nova estrutura física. Quando essa foi criada, Natal tinha 300 mil habitantes. Hoje, juntando a população da Grande Natal, atendemos mais de um milhão", comenta.

Antes, corpos eram jogados no pátio do ITEP, gerando mau cheio e riscos de contaminação
 

Flávio Caldas ressalta ainda que outros setores do ITEP tinham passado por modernização, como a coordenação de Criminalística, reformado em 2009, e a de Identificação Civil, responsável por emitir documentos. No entanto, o setor médico continuava sucateado. Apesar da reforma no necrotério, os funcionários do órgão cobram ainda uma estruturação humana.

Atualmente, o efetivo de médicos-legistas, necrotomistas e peritos é insuficiente. Em Natal, por exemplo são apenas 30 peritos, que se dividem em escalas para vistoriar cenas de crimes de homicídio, acidentes, roubos e agressões. Para se ter uma ideia, somente no ano passado, o laboratório de análises forenses realizou mais de 10 mil procedimentos.

Foto: Thyago Macedo


 

Outro problema que era enfrentado pelos funcionários do órgão, mas que foi amenizado, era a falta de equipamentos adequados para perícias e necropsia. Denúncias davam conta até da falta de materiais básicos como luvas.

No final do ano passado, o Ministério da Justiça anunciou o envio de dez kits considerados ponta de linha. Eles servem para vasculhar locais de crimes em busca de elementos que comprovem autoria de um homicídio, por exemplo, e são compostos por netbooks, reagentes de sangue, máquinas fotográficas, GPS, material para coleta de impressão digital e isolamento de área. No início deste ano, parte desse material chegou no Instituto Técnico-Científico de Polícia do Rio Grande do Norte.

Nova câmara fria
Apesar das dificuldades humanas, a reportagem do Jornal de Hoje ouviu de vários funcionários do ITEP que o maior problema realmente era o acúmulo de corpos sem condições estruturais. Agora, o órgão ganhou uma nova câmara fria com capacidade para 21 corpos, que ficarão divididos nas gavetas e poderão ser conversados por vários dias até a identificação. A antiga geladeira tinha capacidade para 16 corpos, mas por ter 30 anos de atividade atingia temperatura ideal para conservar os corpos em adiantado estado de decomposição.

Foto: Herácles Dantas / Jornal de Hoje

Planta do novo necrotério do Instituto foi apresentada pelo engenheiro responsável
 

O Portal BO conversou com o engenheiro Edson Cavalcante, responsável pela obra de reforma do necrotério. "Além da geladeira divida por gavetas, o espaço terá três mesas para realização dos exames de necropsia e outra para identificação. Esse processo, aliás, também será totalmente modernizado. Com as modificações, os familiares nem precisarão mais entrar no necrotério, pois as identificações serão feitas por um vidro", destaca.

Ainda de acordo com o engenheiro, a previsão inicial é de 45 dias para conclusão das obras. No dia 28 de setembro, os operários iniciaram a reforma. "Quebramos as paredes e retiramos tudo da estrutura antiga. Depois, vamos instalar a nova câmara fria, colocar um forro novo e também aplicar cerâmica em todo o espaço", completa Edson Cavalcante.

Durante esse período de obras, a direção do Instituto Técnico-Científico de Polícia adaptou uma sala especial para realizar as necropsias. Os corpos que não são identificados em até três dias estão sendo levados para um container montado especialmente dentro da sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, o BOPE. Até meados de novembro, os diretores esperam retomar a rotina na sede da Ribeira.