Natal, Rio Grande do Norte, 24 de Abril de 2024

Lágrimas esquecidas no baile da caixa d´agua

Sérgio Costa   10/08/2011 às 06h47   -  Atualizada em 02/02/2015 às 04h43

Felipe Camarão e Mãe Luiza foram personagens marcantes na história do RN! Um desafiando sua etnia em busca da liberdade e paz. Outro pelo serviço prestado em nome da vida!

Nos dias de hoje esses personagens parecem esquecidos, pelo menos na história. Seus nomes são lembrados somente quando um telefone toca no meio da noite e do outro lado da linha alguém com respiração ofegante confirma o local e a natureza de mais um crime de morte em alguma rua da zona Oeste ou zona Leste de Natal.

Os bairros que levam os nomes dessas memoráveis figuras históricas vivem em uma guerra sangrenta e gritante. Os motivos são claros e diagnosticados certeiramente pelos doutores da lei. Entretanto é bem notório que poucos se manifestam em curar uma ferida que cresce a cada dia, a cada hora.

São 22 horas e quarenta minutos. Tiros ouvidos na rua Camaragibe. Um jovem agoniza e espera a morte já anunciada. Era André, ou “boy André” como todos conheciam. O menino que queria ser policial quando crescesse, foi engolido pela falta do básico e preferiu se tornar soldado do tráfico. Morreu consciente que seu destino era viver pela droga e sacrificar sua vida por ela.

A polícia no local. ITEP, delegado, peritos e uma multidão ao redor de um isolamento humano e fardado. Do outro lado da faixa marcada uma mulher chora e declama um poema que se eu fosse sensível intitulava como o clássico literário potiguar contemporâneo: “Lágrimas esquecidas no baile da caixa d água”.

O dia amanhece. Na delegacia um policial civil me recebe com o rosto amassado. Ele brinca com minha presença por está tão cedo por ali. Conduz-me a uma reflexão maldita, mas verdadeira. A de que mesmo preso, o algoz de André matará de novo numa noite dessa aí! Ou em um dia de sol forte entre as paredes riscadas de Alcaçuz.

Deliberei meu sapato desfigurado das andanças em busca da notícia. Cheguei em casa já pelas oito e dormi meus 40 minutos de direito pra sonhar e apostar no bicho com os números de Mossoró. Acordo, leio uma pequena linha de Mario Melo e discordo com ele quando diz que Felipe Camarão nasceu em Pernambuco. Felipe, Luiza e André nasceram e morrem aqui. Um por causa de território. Outro Também.

 

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