Natal, Rio Grande do Norte, 20 de Abril de 2024
Thyago Macedo 09/10/2011 às 11h05 - Atualizada em 21/07/2017 às 14h43
Acostumado a fotografar tragédias, Herácles Dantas é, hoje, uma referência no jornalismo do Rio Grande do Norte, sendo constantemente convidado para realizar palestras na Universidade Federal do RN e em outras instituições. A paixão pela foto surgiu quando Herácles ainda era moço. De lá para cá, são mais de 30 anos clicando mortes, acidentes e criminosos.
Com sangue frio, o fotografo conta suas histórias sem nem mesmo pestanejar e ainda lembra das histórias de cada uma das imagens. Atualmente, seu grande sonho é montar uma exposição. “Fiz fotos de tudo que se possa imaginar. Sempre fui um dos primeiros a chegar às cenas de crime e quase todas as minhas fotos foram publicadas nos jornais”, ressalta.
Herácles trabalhou durante mais de dez anos no Diário de Natal e, há 14 anos, fotografa para o Jornal de Hoje. “Hoje em dia, as informações são mais rápidas, com a internet e o celular. Mas, antigamente, era complicado. Nossa maior fonte de informações eram os taxistas. No Diário de Natal, por exemplo, a gente tinha carta branca para ir para as ocorrências da táxi a qualquer hora. Então, os próprios taxistas que queriam ganhar dinheiro ficavam sabendo das mortes e iam até a minha casa”, conta Herácles.
Dessa forma, ele foi ganhando destaque e conseguindo fazer fotos exclusivas. Uma delas, que ele considera importante, foi a morte de Basílio, ex-treinador do América e professor universitário. De classe média e morando em Parnamirim, Basílio foi assassinado com dois tiros e jogado em uma lagoa em Macaíba. “Nesse caso, o jornal vendeu vários exemplares, chegando a esgotar nas bancas”, afirma.
Foto: Herácles Dantas
Herácles também lembra que nunca teve “frescura” e até mesmo seus filhos se acostumaram com a rotina do pai. Em uma das fotos feitas por ele, inclusive, a filha, que na época tinha cinco anos, aparece na porta de uma casa olhando para o corpo de uma mulher assassinada pelo marido com mais de 20 facadas. “Ela me pedia pra ir e eu sempre levava”.
Apesar de falar com naturalidade das histórias violentas que fotografou, Herácles Dantas lembra de uma que mexeu com seu psicológico. “Esse caso é triste porque envolve uma criancinha. A mãe tinha saído à noite e deixou o bebê dormindo. Durante a madrugada, uma irmã mais velha, que tinha deficiência mental, enterrou a criança viva”.
Fotos: Herácles Dantas
No dia seguinte, a mãe procurava pelo bebê de seis meses e acabou pisando em uma terra fofa no quintal. Era a filha que já estava morta. “Lembro que quiseram linchar a irmã deficiente, mas a própria mãe pediu que não fizessem isso. Esse caso aconteceu no Jardim Progresso”, destaca Herácles Dantas.
Nem só de tragédias, no entanto, é feito o jornalismo policial. Existe o lado cômico e o fotografo também tem histórias engraçadas para contar. Um dos casos é de Emanoel Varela, preso no Planalto por vender carne de burro na feira do Carrasco.
Foto: Herácles Dantas
“Eu cheguei na delegacia e fui com o aleijado até o local onde ele enterrava os burros. Depois, fiz a foto dele segurando a cabeça”, comenta, em meio as risadas. Herácles fotografou vários criminosos perigosos que aturaram no Rio Grande do Norte e conhece como ninguém a história de cada um deles.
Com um acervo incontável de fotografias, seu grande objetivo é montar uma exposição fotográfica e apresenta-la aos norte-riograndeses. “Para isso, preciso de patrocínios, mas estou trabalhando para fazer isso. É o meu grande sonho”.